Falar de Desconstrutivismo é falar de uma linha de produção arquitetônica caracterizada pela fragmentação, pelo processo de um desenho não linear, por um interesse pela manipulação das idéias da superfície das estruturas ou da aparência, de formas não retilíneas que servem para distorcer e deslocar alguns dos princípios elementares da arquitetura, como a estrutura, as paredes, o piso, a cobertura e as aberturas do edifício. Falar de Desconstrutivismo para Peter Eisenman é falar de uma arquitetura que propõe uma nova relação entre sujeito e objeto. Uma arquitetura em que o espaço “olhe de volta” para o sujeito. Esse “olhar de volta” diz respeito a desatrelar o sujeito da racionalização do espaço. Para isso, ele propõe a reavaliação da idéia de inscrição espacial.
Eisenman afirma que a visão humana é a principal faculdade mental interpretativa e que o sujeito humano, dotado de visão, ainda é o alvo principal da arquitetura. Para ele, a arquitetura tem de problematizar a visão e tornar o homem capaz de criar um novo entendimento de espaço. O arquiteto desconstrutivista propõe a idéia de um espaço dobrado, sem que haja uma relação de maior importância entre os espaços internos sobre os espaços externos numa obra, o que desvincula a arquitetura da funcionalidade do seu interior, aproximando a produção à um efeito estético e substituindo a visão.
É essa a intenção da linha desconstrutivista. Criar perceptos. Espaços afetivos. Influenciado pelas experimentações formais e desequilíbrios geométricos do Construtivismo Russo e totalmente oposto à racionalidade do modernismo, Eisenman conceitua suas obras. Na década de 90, diante dessa busca de dobras, desequilíbrios e distorções, a utilização de programas de computadores facilitava o projeto e permitia a produção de novas formas. Daí o fato de alguns críticos afirmarem que o encontro do arquiteto teórico não ocorre mais com a filosofia e sim com a máquina, que rege suas criações.
Segundo Paul Virilio é realmente inegável o avanço que o “Grande Computador” propôs na realização de formas inusitadas e na melhor apresentação e organização gráfica dos projetos. Porém, o que não deve acontecer é a relação de industrialização arquitetônica, a produção desenfreada e em série de formas similares. A arquitetura com a intenção apenas de surpreender através de formas que rompem com um estilo anterior. Segundo Virilio é preocupante a maneira com que a globalização e a tecnologia da informação gerada pelos meios digitais rompem com a barreira de mundo e tornam instantâneos todos os acontecimentos mundiais para todas as pessoas, gerando uma sincronização de emoções. Diante dessa globalização, o computador possibilita o conhecimento de diversos lugares e obras arquitetônicas sem que se precise ir no seu genius loci visitá-las. Isso gera, fatalmente, uma visão distorcida, descontextualizada. As pessoas conhecem essas obras sem sentir o clima, sem presenciar o local onde ela está inserida. De que forma então, esse espaço vai “olhar de volta” para o sujeito? Desconsiderando elementos essenciais na criação de novos perceptos?
O processo de criação do Wexner Center é um exemplo que nega a possibilidade de real conhecimento da obra sem que se conheça de fato o local ao qual ela está inserida, o seu contexto.
WEXNER CENTER
Wexner Center (Projeto de Peter Eisenman) – Este complexo incorporou a adição de valores contextuais. Essa relação contextual refere-se aos parâmetros topográficos, históricos e urbanos. Ao aplicá-los notou a necessidade da inclusão destes circunstanciais na sua ordem de produção, para que elas adquiram referências locais, maior coerência e embasamento teórico mais complexo, afirmando que para uma edificação obter um significado ela deve transmitir sua verdade e expressar seu contexto.Neste caso o arquiteto ponderou o local da construção deste Centro de Artes Visuais, considerando que a antiga utilização do terreno tratava-se de uma fábrica de armas, devendo estar expresso na obra com elementos que há trouxessem de volta, só assim dando um significado histórico para essa obra.
Além disso, acaba por existir uma “banalização” das inúmeras possibilidades de criação geradas pela instrumentação digital do computador. As formas acabam se tornando incidentes informáticos e essas formas não mais conseguem provocar inquietações e sensações no sujeito.
Eisenman afirma que não constrói o que ele fazia nos anos 70, por seguir a lógica de que a sociedade contemporânea já não é mais a mesma daquela época e que se mantivesse o mesmo raciocínio dos anos 70 não causaria nenhum tipo de efeito a qual ele queria que o observador sentisse. E é daí quem vem o questionamento: O que torna as primeiras construções de Eisenman que seguem os mesmos princípios filosóficos e conceitos desinteressantes atualmente? Seria apenas uma mudança na forma de pensar da sociedade, ou estaria ele projetando com o encontro não mais com a filosofia e sim com a máquina tornando-se vítima dela?