segunda-feira, 12 de maio de 2008

Marcos Novak e o conceito de Transarquitetura



Marcos Novak é arquiteto, músico, artista e teórico. Investiga ambientes inteligentes virtuais e mutantes. É o criador do conceito de transarquitetura, uma forma de arquitetura que se desenvolve na fusão do real com o virtual e da informação com a matéria. Além disso, apresenta mais dois conceitos principais que surgem a partir do desenvolvimento da tecnologia: arquitetura líquida (sendo esta uma arquitetura mutável, onde os prédios reagem ao meio) e a eversão (conceito paralelo à imersão, onde pensamos no que está além das artes eletrônicas).


Em meados dos anos 1990, com o termo Transarquitetura, Novak passou a propor um novo olhar sobre a fronteira entre mundos concreto e virtual. Um estudo aprofundado sobre o que seria o ciberespaço. O ciberespaço e a transarquitetura são conceitos empregados em uma nova filosofia arquitetônica digital, que se trabalha com novas investigações sobre massa, formas, volumes e construções deste espaço tecnologicamente avançado. Segundo o arquiteto, São entornos virtuais que constituem sítios autônomos e arquitetônicos e que, por outro lado, se lança como um novo campo de amplitude sem precedentes, transurbano e abertamente público.

Novak afirma que o cyberspace promoveu o encontro da computação com a topologia, resultando num novo conceito: a noção de "topologia variável". Essa variabilidade, para ele, faz com que a arquitetura se depare hoje com o desenvolvimento de uma forma de espaço urbano e arquitetônicosem antecedentes, transformando-se num espaço público global e sem existência física. Ele acredita na presença decisiva dos recursos tecnológicos reconfigurando e redirecionamento as atividades humanas atuais.

Segundo Novak, uma das possibilidades de compreensão e percepção das qualidades do espaço contemporâneo pode ser feita a partir da leitura que, escapando de sua materialidade essencial e superando a noção moderna de jogos de volumes e vazios, o espaço agora permite compreensões que evoluem da espacialidade cartesiana em direção à lógica das redes de informação, espaços de troca, onde se inserem novas variáveis alémdaquelas de forma, volume, altura, área, mas interferência, velocidade, intensidade. Seria possível na busca de uma interatividade, umainserção do homem em experiências comunicativas próximas mas remotas sem abdicar do conceito de inclusão num espaço social real?

Para entender a lógica do cyberspace, um espaço onda a presença é parcial,variável e casual é preciso relativizar conceitos de 'estabilidade' e 'permanência' na arquitetura que, segundo Novak, vem se inserindo em uma radical variabilidade.

Greg Lynn: Tecnologia como alavanca para o processo de criação


Segundo o arquiteto biólogo Greg Lynn, a computação gráfica e os diagramas digitais na arquitetura e no urbanismo devem ser vistos como técnicas conceituais que antecedem qualquer tecnologia particular. A tecnologia é usada não mais na aplicação do projeto mas no momento da sua concepção. Essa postura diante da aplicação da tecnologia digital busca introduzir a apresentação dos diagramas da arquitetura numa prática de concepção dos projetos anterior ao instante em que eles se tornam tecnologias materiais aplicadas. Para arquitetos como Lynn (que se dedicam muito mais à investigação e experimentação do que propriamente à pratica do projeto) os diagramas digitais buscam não apenas o entendimento de uma situação específica mas o entendimento das causas que levaram a ela. Para eles, o esquema digital atua como intermediário, tocando no processo de geração do espaço e evidenciando suas relações de força.O caráter abstrato dos diagramas está desatrelado da funcionalidade das coisas, da localização pontual da fonte do poder e da forma fixa das estruturas. Lynn assume esta fluidez das técnicas diagramáticas. As formas zoomórficas dos seus diagramas é vista de maneira singular no projeto da Embryological House.

Esta arquitetura da Embryological House (denominada Arquitetura Líquida) se configura através de superfícies envoltórias, maleáveis, fluidas, aonde não se sabe o que é teto, piso e parede, que são, na verdade, superfícies contínuas. Sua estrutura é na verdade uma malha rígida convencional aperfeiçoada, adquirindo flexibilidade, maleabilidade, fluidez e mutabilidade. Essa obra oferece novas abordagens de projeto.

As formas utilizadas são facilmente
controladas pela manipulação e controle de pontos e nós, tornando as formas complexas do espaço possíveis devido à ferramenta do computador. A respeito desta definição, Greg Lynn afirma que todo esse uso que se tem feito da topologia, centra atenção nas formas, mas a topologia está interessada em características espaciais independentes da transformação formal. Lynn demonstra uma preocupação muito maior com o espaço do que com a forma propriamente dita.
A mensagem transmitida pelos parâmetros conceituais de Greg Lynn, um arquiteto que utiliza os meios computacionais desde a concepção projetual até sua fabricação, sustenta a importância da tecnologia computacional na arquitetura como fator agregador. Além disso, os resultados apresentados demonstram que, quando bem utilizada, a tecnologia computacional, pode deixar de ser simples representação e se transformar em um meio e exploração.

quinta-feira, 27 de março de 2008

O Desconstrutivismo Eisenmaniano e a Arquitetura Digital

Falar de Desconstrutivismo é falar de uma linha de produção arquitetônica caracterizada pela fragmentação, pelo processo de um desenho não linear, por um interesse pela manipulação das idéias da superfície das estruturas ou da aparência, de formas não retilíneas que servem para distorcer e deslocar alguns dos princípios elementares da arquitetura, como a estrutura, as paredes, o piso, a cobertura e as aberturas do edifício. Falar de Desconstrutivismo para Peter Eisenman é falar de uma arquitetura que propõe uma nova relação entre sujeito e objeto. Uma arquitetura em que o espaço “olhe de volta” para o sujeito. Esse “olhar de volta” diz respeito a desatrelar o sujeito da racionalização do espaço. Para isso, ele propõe a reavaliação da idéia de inscrição espacial.

Eisenman afirma que a visão humana é a principal faculdade mental interpretativa e que o sujeito humano, dotado de visão, ainda é o alvo principal da arquitetura. Para ele, a arquitetura tem de problematizar a visão e tornar o homem capaz de criar um novo entendimento de espaço. O arquiteto desconstrutivista propõe a idéia de um espaço dobrado, sem que haja uma relação de maior importância entre os espaços internos sobre os espaços externos numa obra, o que desvincula a arquitetura da funcionalidade do seu interior, aproximando a produção à um efeito estético e substituindo a visão.

É essa a intenção da linha desconstrutivista. Criar perceptos. Espaços afetivos. Influenciado pelas experimentações formais e desequilíbrios geométricos do Construtivismo Russo e totalmente oposto à racionalidade do modernismo, Eisenman conceitua suas obras. Na década de 90, diante dessa busca de dobras, desequilíbrios e distorções, a utilização de programas de computadores facilitava o projeto e permitia a produção de novas formas. Daí o fato de alguns críticos afirmarem que o encontro do arquiteto teórico não ocorre mais com a filosofia e sim com a máquina, que rege suas criações.

Segundo Paul Virilio é realmente inegável o avanço que o “Grande Computador” propôs na realização de formas inusitadas e na melhor apresentação e organização gráfica dos projetos. Porém, o que não deve acontecer é a relação de industrialização arquitetônica, a produção desenfreada e em série de formas similares. A arquitetura com a intenção apenas de surpreender através de formas que rompem com um estilo anterior. Segundo Virilio é preocupante a maneira com que a globalização e a tecnologia da informação gerada pelos meios digitais rompem com a barreira de mundo e tornam instantâneos todos os acontecimentos mundiais para todas as pessoas, gerando uma sincronização de emoções. Diante dessa globalização, o computador possibilita o conhecimento de diversos lugares e obras arquitetônicas sem que se precise ir no seu genius loci visitá-las. Isso gera, fatalmente, uma visão distorcida, descontextualizada. As pessoas conhecem essas obras sem sentir o clima, sem presenciar o local onde ela está inserida. De que forma então, esse espaço vai “olhar de volta” para o sujeito? Desconsiderando elementos essenciais na criação de novos perceptos?

O processo de criação do Wexner Center é um exemplo que nega a possibilidade de real conhecimento da obra sem que se conheça de fato o local ao qual ela está inserida, o seu contexto.

WEXNER CENTER

Wexner Center (Projeto de Peter Eisenman) – Este complexo incorporou a adição de valores contextuais. Essa relação contextual refere-se aos parâmetros topográficos, históricos e urbanos. Ao aplicá-los notou a necessidade da inclusão destes circunstanciais na sua ordem de produção, para que elas adquiram referências locais, maior coerência e embasamento teórico mais complexo, afirmando que para uma edificação obter um significado ela deve transmitir sua verdade e expressar seu contexto.Neste caso o arquiteto ponderou o local da construção deste Centro de Artes Visuais, considerando que a antiga utilização do terreno tratava-se de uma fábrica de armas, devendo estar expresso na obra com elementos que há trouxessem de volta, só assim dando um significado histórico para essa obra.

Além disso, acaba por existir uma “banalização” das inúmeras possibilidades de criação geradas pela instrumentação digital do computador. As formas acabam se tornando incidentes informáticos e essas formas não mais conseguem provocar inquietações e sensações no sujeito.

Eisenman afirma que não constrói o que ele fazia nos anos 70, por seguir a lógica de que a sociedade contemporânea já não é mais a mesma daquela época e que se mantivesse o mesmo raciocínio dos anos 70 não causaria nenhum tipo de efeito a qual ele queria que o observador sentisse. E é daí quem vem o questionamento: O que torna as primeiras construções de Eisenman que seguem os mesmos princípios filosóficos e conceitos desinteressantes atualmente? Seria apenas uma mudança na forma de pensar da sociedade, ou estaria ele projetando com o encontro não mais com a filosofia e sim com a máquina tornando-se vítima dela?